Se um poeta batesse à minha porta
Se um poeta batesse à minha porta,
Eu diria que entrasse sem alarde
Pois a hora e o trabalho ao sol que arde
Não se deve perder em letra morta.
Em palavra que engana, quem se importa,
Filosofa, argumenta, é covarde,
E se vai, todos pensam: já vai tarde,
Numa valsa ele parte, a noite corta.
Intranqüilo, com medo, vai descrente,
Quem precisa um poeta sem ação
De voz rouca, trombeta, fanfarrão?
Mas a noite não o deixa tão impotente,
Inspirado ele baila de emoção,
Solitário bate seu coração.