Infância abandonada

Por que viver assim, abandonado e só?
Que fez ao mundo vil esse inocente infante?
Viver jogado ao léu, como se fora pó,
Na rua a padecer, levando vida errante;

brutalizado ser, sem que se tenha dó,
sobrevivendo à dor, lutando igual gigante,
a fome a lhe comer, como se fora mó,
na noite tão sem fim, sem que ninguém se espante.

Curvado sobre si, a revirar o lixo,
(ninguém lhe dá  amor, uma esperança, abrigo),
desesperado e só,  migalhas podres cata.

E nas sarjetas dorme e vive feito bicho,
desconhecendo o amor, sem ter um colo amigo,
conhece só perigo e o desamor que mata!
 
Cuiabá, 4 de Junho de 2.009.

Livro: Cantos de Resistência, pg. 52
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 04/06/2009
Reeditado em 02/08/2020
Código do texto: T1631726
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