São sonetos que além da obrigatoriedade das 10 sílabas poéticas, exige outra, a acentuação tônica nas sílabas 5 (cinco) e 10(dez) em todas as suas estrofes. E mais ainda: tratamento especial deve ser dado ao encontro entre as duas metades dos versos. Essa divisão pela metade (denominada hemistíquio) deve-se à pausa encontrada na quinta sílaba. O metrificador deve buscar a exatidão na quantidade de sílabas (cinco em cada metade dos versos) de forma que os possíveis encontros vocálicos não firam a sonoridade dos versos. As regras aqui explicitadas baseiam-se naquelas adotadas para os versos alexandrinos.
As exigências do verso estoico
A última palavra da primeira metade do verso só poderá ser uma palavra oxítona (aguda) ou uma palavra paroxítona (grave).
Caso seja uma oxítona, o verso completa-se em número de sílabas e termina por aí. Exemplo: Falar de amor, esquema final (10 sílabas no total) Ok!
Caso seja uma paroxítona, a primeira palavra do segundo hemistíquio (a segunda metade do verso) deve iniciar-se por uma vogal permitindo assim a contração (elipse) natural provocada pelo encontro vocálico.
Exemplo: “Forma, conteúdo, esquemas traçados”.
Primeiro hemistíquio: “Forma, conteú(cinco sílabas).
Segundo hemistíquio: “d’esquemas traçados” (cinco sílabas). Ok!
Jorro do vazio
Cica amargosa em meus terminais!
Jorra do meu cerne em dores e ais!
Tento ver por que desprezo o mundo!
Esse status quo de um vagabundo!
Penso torto o certo... e não vejo amigos.
Fingem não me ver, olham seus umbigos.
Uma força lhes dei, quando precisaram.
Curei sua ferida e alto voaram
Para o espaço ermo, em frio desapego.
Fruição da fé, esconderam os medos.
Agora ao léu, nos próprios abismos,
Enxergam à luz de seus cataclismos.
Emerge calado o vazio em mim,
Solidão e frio, haverá um fim?
Cadê o café?
É bom esperar, quem espera alcança.
Posso encontrar o encontro perdido.
Há no coração uma esperança.
O segredo vão que não foi parido!
Nada de partir, nem mesmo esconder.
Nada de fingir, dada a evidência...
Nada de surtar, não irá soer,
Nada a suprir pois não há carência.
Não sonhar em vão, esquecer o amor.
Gotas de orvalho, natureza ativa.
Perecer de fé? Quem perece é a dor...
Um anjo de luz nossa história aviva,
Desígnios não são um pesado fardo.
E o café... não sai... com o fogo apagado!
Miragem
Linha tão sutil, perdi esse trem.
Algo tão sublime e foi tão além.
Amor pueril que desmoronou.
Tênue ilusão, fonte que secou.
Triste conclusão, mais que um retrocesso.
Produção banal, caos de um processo.
Forma, conteúdo, esquemas traçados,
Tema sem canção, papel amassado.
Falei sem pensar bravatas tão toscas,
Sonhei sem parar idéias tão loucas...
Um pote de mel, canto de sereia
Quanta insensatez, pegagosa teia.
Atirado ali, sem qualquer triagem,
Perdi-me e a ti, virastes miragem.
Clamor
Senhor do amor vem santificar-nos!
Senhor cardeal vem orientar-nos!
Imploro a chorar a vossa clemência!
Perdoa-nos ser, filhos da demência!
Ó Onisciente, eis que o tormento
Chega em desamor, chega em lamento!
Indícios do fim, prestes a soer!
Denotam que nada, podemos fazer!
Ó Onipotente, esperança e amor,
Age com rigor, afasta o mal,
Volta a paraíso esse inferno astral!
Ó Onipresente, ouve esse clamor!
Destrói o orgulho, a vaidade humana,
Sede de poder, violência insana!
A mão de Deus
Dores de deixar a alma turvada!
Mente em dissídio, oro conturbado!
Extremada dor, estranho torpor!
Espasmo gritante, angústia, horror!
Lamentar sem fim que à tona traz,
A melancolia, e indigente paz!
Uma louca paixão, um frio estupor
Que a Luz demoveu, alastrada em cor!
Uma mão que afasta o abissal abismo.
Um toque de amor, agitado sismo.
Uma extremunção, devolve o vigor.
Som que ao ecoar, expunge o rancor.
Uma vida só, imperfeita e impura,
Entrega-se à mão que oferece a cura!
Divã
Penso sempre em ti quando em solidão.
Lembro a tua voz, lembro uma canção.
Lembro o teu sorrir, Mona, especial.
Mais que especial, vida em alto astral.
Penso no tremor de tocar tua alma,
Do cerne arrancar quietude e calma,
Do calor sentir o choque do bem,
Seguir tua rota, estar nesse trem.
Alucinação... ando a murmurar.
Pego-me a escrever versos ao luar:
“Nosso Criador teceu teus cabelos
E logo a seguir, o mar dos espelhos,
Fico a meditar com grande pesar,
Deito no divã, esse é o meu lar...”