Sonetos em Redondilhas Maiores

São estruturados com versos de 7(sete) sílabas poéticas.   É comum entre os versificadores chamar os versos em redondilhas maiores simplesmente de redondilhas.

Percalço

Se eu pudesse transformar-me
Com o poder da magia
De lindos sonhos rodear-me
Pra desfazer a apatia

Mormente a imaginação
Voa tão alto que penso
Mente faz-se coração
Coração faz-se intenso

Tanto esforço, uma tortura
Espírito voa alto
Alma voa em ascensão

Ó Criador da criatura
Diante desse percalço
Imploro a Ti perfeição

O pensar e o fazer

Acorda mundo, que chove,
Sem pressa, vem divagar.
Se é o frio que a ti encolhe,
Calor não vais suportar.

Mantendo a porta aberta,
É mais fácil aguentar.
Ainda é tempo, desperta!
Vamos juntos, exercitar.

Perdido, apaixonado,
Pela razão de viver
Conflito desesperado,
Não admito morrer.

E nem tampouco esquecer
Rimar o pensar com o fazer.

Soneto do perdão

Ainda sinto a fragrância,
Instância da tua essência,
Veemência dos olhos teus,
Desejos meus realizados.

Se o aço amiúde fere,
Que seque a tua lágrima,
Que a mágoa em teu peito cale,
Que idéias falem na escrita,

Desditas desventuradas,
Já aventadas por poetas
Exegetas, tresloucadas.

Amada, tu a mim indultas
E catapultas-me o perdão?
Eis a questão...Perdoar!

Perambulando pela idade

Meio século de andança,
Transparece a barba branca,
Indícios do madurão,
Barba preta é azarão.

A branca traz suas vantagens,
Sem rodeio ou malandragem,
De enxergar esse mundão,
Com as cores do coração.

Eu digo isso por mim:
Conviver com alguém assim,
É um verdadeiro deleite
Pudim de doce-de-leite,

É um manjar de ambrosia,
Com sabor de poesia.

De fato

O poeta expressa a dor
De modo tão eloquente
Que quem o lê sente a dor
Que na verdade não sente.

Poeta que vive o amor,
De fato, eloquentemente,
Deixa de expressar a dor,
Fingindo que não a sente.

Sorri pra todos os chatos
Pensarem que é feliz!
E sabe que uma vida,

Vivida em total desdita,
É a "vida de uma meretriz";
Não de um poeta...de fato!

Amor invicto

E porque não festejar
Esta perfeição que há,
Nesse amor de imaginar
Que ao mundo faz deslocar,

Tamanho poder de ação
Que exerce no coração
Velada satisfação
E indescritível emoção!

Enxerga-se sim, com a mente,
Com a alma e o peito ardente,
E sentindo até saudade,

Porque aí não há maldade,
Nem perto ou longe passou.
Permanece invicto o amor.

Passagem

Impossível esquecer-te,
Desprezar o que foi uma dádiva.
Mas a vida transcendestes,
Como viver com essas mágoas?

Lembro-te e a felicidade,
Teu carinho, teu viver.
Lembro a tão pouca idade,
Desse triste entardecer.

Me pergunto o que perdemos?
Acho que sempre ganhamos,
Perto, convivendo, n’ arte.

Concluo sorte tivemos,
Por termos tido quem amamos.
Por ti choramos, passastes...

Espelho

Sei que teu espelho sou,
E estou com a tua imagem,
Pra, na miragem, reler,
Ver em teus olhos sem esforço,

O esboço da tua alma.
Com calma, sem pressa vã,
Mas com afã e carinho,
Sonhar no ninho contigo.

No abrigo do meu real,
Derreter-me em tal desejo,
Pensar em beijos possíveis,
Irresistíveis abraços,

Amassos estancam o grito,
Destarte quero o infinito.

Pólen do amor

A ilusão de te ter,
Faz-me voar, e querer
Ir onde estás, pois tão perto,
Avesso-me, inquieto.

Bate asas e vai, canção,
Derrama o som da emoção!
Espalha o azul do espaço,
Estabelece um contato!

Sussura ao redor da alma!
Diz a verdade e a acalma!
Leva-me à paz que aspiro,

Por qual há tanto suspiro.
Arranca deste peito a dor!
Semeia o pólen do amor!

Sonhos

Nos sonhos há, pra sentir,
Versos que estão a fluir.
Só que, temos que acordar,
Mantendo o sonho “no ar”.

Que o sono confunde o mote,
Mas com um pouquinho de sorte,
Conseguimos registrar,
O contexto e relatar.

Que sejam sim fantasias,
Que não sejam heresias,
Castelos feitos de areia,
Gnomos, fadas, sereias.

I should have said to Shakespeare:
Yes to dreams, No to agony!

Soneto à Marielle

Quem sabe um dia, talvez,
Essa finíssima tez,
Que imagino virtualmente,
Em face tão sorridente,

Seja mais que uma imagem.
Seja mais que uma viagem,
Dos olhos, contemplação,
Da mente, imaginação.

Que possa sua voz sentir,
Marielle, uma canção,
Carícia dos seus cabelos,

O seu calor aferir,
Ouvir o seu coração,
Dizer, te amo, com zelo.

Borboleta Amiga

Um olhar fugaz,
Um abraço sincero,
Um sorriso singelo,
Mil instantes de paz.

Verbo e ação coerentes,
Cores do arrebol,
Lindo pôr-do-sol.
Chuva e as sementes,

O vento e as folhas,
O tempo e as flores,
O cor e os amores.

Borboleta amiga,
Que agora bebe,
Da água da vida.

Soneto 55

Cabra da peste, Lampião,
Alparcata em chapa quente,
Foi com os pobres complacente,
Robin Hood do sertão!

Hoje tá tudo mudado,
Mas, fé, continua a ser,
O bom “prato de comer",
Do valente insensato.

E a sua fome, um clamor!
Um brado de forma agreste,
Resvala por suas preces,
Amenizando sua dor.

Nordestino em agonia,
Meu abraço em poesia!

Deus é Fiel

Sem eira nem beira,
Sem chão, firme cais
O rugir na trincheira,
Entre dores e ais.

Descontrole insano,
Sei que não mereces,
Nos olhos, enganos,
Fervorosas preces.

Perdestes a trilha,
Em busca de um nada?
O teu olho não brilha
Na Luz apagada?

Esperança no Céu!
Pois Deus é Fiel!
 
Soneto sonhado

Nos sonhos dá pra sentir
Quando irá fluir um verso
E o universo da mente
Semente da realidade

Dá qualidade ao mote
E a sorte mesmo pouca
Provoca louca corrida
Dá partida ao sonetar

Ao versejar fantasias
Uma agonia, um pesar
Alma a chorar frente à trama

Um drama no coração
Um tesão descompassado
Soneto sonhado em vão

Alucinação

Manterei, a trinta anos,
Toda a minha lucidez?
Embora caiba em meus planos
Estarás viva, minha Inês?

Verás todo o sofrimento
Presente em minha alma?
A dor que estarei sentindo
Afetará tua calma?

É impossível prever,
Somente imaginação...
Será sem rumo o meu ser,

Vão, louco, meu coração?
Que piegas é o meu espírito,
Dissenso, alucinação!

Milagres

Milagres existem sim:
São aleijados que andam,
São surdos-mudos que clamam,
A própria vida em mim!

Loucos a compreender,
Que a consciência é a mina,
Os cegos que examinam,
A vida e dão parecer,

A própria vida é o Sim!
É a consciência que brota,
A Fé, um alguém, a dor,

No ser vivo tem um fim,
É a esperança que trota
Num rompante de amor !

Jesus, a esperança

Dentro deste ôco de mundo,
Imundo, atrás de uma luz,
Uma cruz pesada nos ombros,
Escombros do desamor!

Horror, cruz-credo! famélicos!
Mister de um mau destino!
E a pino o sol destroçando...
Seus planos? Nunca existiram!

Não pedem nem por um prato!
Ingratos? Nem têm história!
Memória? Fome, desgraças!
Vingança? Já não há forças...

Esforço? Carregam cruz!
Jesus! Eis sua esperança!

Páscoa

Páscoa é celebração!
Exalta a ressurreição,
De Cristo, Deus de amor
Que ao homem emancipou!

Desígnios da Providência,
Transcendendo a inteligência,
Questionaram o viver
Terrestre, de todo sêr.

Sabedor de sua morte,
Alegrou-se com a sorte,
De enfim cumprir sua missão,
Trazendo a Revelação!

Três dias, ressuscitou!
Suas chagas Tomé tocou!

Quaresma

Momentos de contrição
Levam-me à reflexão
Do Cristo vivo em meu peito
Que consciente aceito

Poesias na fornalha
Registros vivos da alma
Sofrida, arrependimentos
Dorida por seus tormentos

Janeiro já pereceu
Fevereiro hoje nasceu
Tríduo de Momo profano
Antes das cinzas do Ano

Quaresma, pros extremados
Compunção por seus pecados

Pé-de-vento

Felizes, sim, lembro, fomos!
Abençoada canção
De amor por tudo o que somos,
E éramos, só coração.

Tua ida pro além-mar
Do antes, agora e após
De nossa história; do amar
Sobraram apenas lençóis.

Prá longe tudo levastes.
O riso, o amar, a alegria
Que a cantar tu cativastes,
Agora é pura agonia

Pé-de-vento que a levou,
Traz-me de novo o amor!

Devoção

Uma canção de ninar
Pra flor sempre quis fazer,
Mas Flor, onde está você,
Pra que eu possa tributar-te?

Lembro-me do interior...
Enquanto na capital,
"que esse lugar me faz mal",
Sinto falta desse amor...

As coisas da devoção
Como infinitas correntes,
Vivem no inconsciente,
Fluem pelo coração...

Decerto já te perdi!
Deserto, te nino aqui...