AMOR-ZUMBI

Sharik Letak


Se se morre de amor! — Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entre os festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n'alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve, e no que vê prazer alcança!

Gonçalves Dias



Se morto estou como posso, então, vê-la,

E como podem os seus olhos me tocar?

Por que eu posso, então, inda querê-la

Se morto não sente o gosto de gostar.


Se morto, eu não posso percebê-la,

Por que vejo em minh' alma a brilhar,

A minha bela e rutilante estrela,

Capaz de ainda me fazer sonhar.


Aquele adeus, aquele rude aceno

Não me matou, foi um cruel veneno

Que me fez morto-vivo, um zumbi.


Quero esquecê-la, mas sinto pequeno,

Quero estar morto, mas por mais que treno,

Eu só posso fingir, que já morri.