RICORDANZA DELLA MIA GIOVENTÚ
Augusto dos Anjos.
A minha ama-de-leite Guilhermina
Furtava as moedas que o Doutor me dava.
Sinhá-Mocinha, minha Mãe, ralhava...
Viu naquilo a minha própria ruína!
Minha ama, então, hipócrita, afetava
Susceptibilidade de menina:
“ – Não, não fora ela! –“ E maldizia a sina,
Que ela absolutamente não furtava.
Vejo, entretanto, agora em minha cama,
Que a mim somente cabe o furto feito...
Tu só furtas a moeda, o ouro que brilha..
Furtaste a moeda só, mas eu, minha ama,
Eu furtei mais, porque furtei o peito
Que dava leite para tua filha.
Diz Hermes Fontes que o livro EU, de Augusto dos Anjos, “depende de muitas leituras. A primeira entonteia, a segunda entusiasma, a terceira sensaciona, a quarta encanta e conduz, não raro, à lágrima e ao êxtase”.
Diria que a mim encanta e seduz, sem que outras sensações me abandonem. Porque o poeta do “feio” me impressiona no belo. Esta antítese é marca forte, férrea nas brasas da sua poesia em pele sangrada, carne decomposta, alma ferida, mas transparecendo insólito lirismo, deleite mórbido e amoroso tanto quanto belo na sua razão e modo de ser.
Esta foi a minha impressão de conjunto, impressão geral da primeira leitura: porque o livro de Augusto dos Anjos, mal comparando, reclama do leitor o cuidado que se dá à barba dos príncipes; barbeia-se uma vez, duas, três, escanhoa-se, e só ao fim desta última prova, tem-se a beleza da cútis fidalga, o rosado da face e o azulado fino da pele desbastada.
Aqui um raro e igualmente belo momento da poética de Augusto dos Anjos.”Poeta da Morte”. Poeta do EU, poeta do coração, não do coração apaixonado, mas trespassado pela lança da dor que lhe obscureceu a alma. Poeta da vida, também. Vida que lhe fora breve, mas não sem as recordações da sua juventude em que ele morreu no auge.
Isto aqui não é resenha, tampouco ensaio. Sou EU, entre A Árvore da Serra e Versos Íntimos.
Augusto dos Anjos.
A minha ama-de-leite Guilhermina
Furtava as moedas que o Doutor me dava.
Sinhá-Mocinha, minha Mãe, ralhava...
Viu naquilo a minha própria ruína!
Minha ama, então, hipócrita, afetava
Susceptibilidade de menina:
“ – Não, não fora ela! –“ E maldizia a sina,
Que ela absolutamente não furtava.
Vejo, entretanto, agora em minha cama,
Que a mim somente cabe o furto feito...
Tu só furtas a moeda, o ouro que brilha..
Furtaste a moeda só, mas eu, minha ama,
Eu furtei mais, porque furtei o peito
Que dava leite para tua filha.
Diz Hermes Fontes que o livro EU, de Augusto dos Anjos, “depende de muitas leituras. A primeira entonteia, a segunda entusiasma, a terceira sensaciona, a quarta encanta e conduz, não raro, à lágrima e ao êxtase”.
Diria que a mim encanta e seduz, sem que outras sensações me abandonem. Porque o poeta do “feio” me impressiona no belo. Esta antítese é marca forte, férrea nas brasas da sua poesia em pele sangrada, carne decomposta, alma ferida, mas transparecendo insólito lirismo, deleite mórbido e amoroso tanto quanto belo na sua razão e modo de ser.
Esta foi a minha impressão de conjunto, impressão geral da primeira leitura: porque o livro de Augusto dos Anjos, mal comparando, reclama do leitor o cuidado que se dá à barba dos príncipes; barbeia-se uma vez, duas, três, escanhoa-se, e só ao fim desta última prova, tem-se a beleza da cútis fidalga, o rosado da face e o azulado fino da pele desbastada.
Aqui um raro e igualmente belo momento da poética de Augusto dos Anjos.”Poeta da Morte”. Poeta do EU, poeta do coração, não do coração apaixonado, mas trespassado pela lança da dor que lhe obscureceu a alma. Poeta da vida, também. Vida que lhe fora breve, mas não sem as recordações da sua juventude em que ele morreu no auge.
Isto aqui não é resenha, tampouco ensaio. Sou EU, entre A Árvore da Serra e Versos Íntimos.