A OUTRA FACE

A inspiração chega sorrateira,

e ao dar-lhe vida, satisfaço-me.

A rima aproxima-se certeira,

passo a passo soneto faço-me.

No verso, zelo com a sílaba,

que errar será jamais o meu intento,

espalho a tempo o ponto e a vírgula,

infinito e nobre é o meu tormento.

Mas a alma em prantos feroz não aceita,

o verso que esconde com classe,

a verdade que ela própria rejeita...

E nefasta esta dor que cria o impasse,

como o poema de métrica estreita:

perfeição que subtrai a nossa face!