UM AMOR, DE PASSAGEM
Ela passou, como quem passa e fica,
e ficou, sem ficar, sendo presença
nos pecados da noite e na pudica
visão do sol, no instante da nascença.
Eu a senti como quem sacrifica
ao desengano a sua própria crença,
como quem, sem ninguém, se comunica,
apesar de pesar-lhe a indiferença.
Depois de tanto tempo eu já não sei
se no tardo de tudo o que passei,
vale a pena lembrar o que perdi
na saudade do amor, que não vivi,
na ternura das mãos, que não senti,
nos desejos dos beijos, que não dei.
Odir, de passagem