CICATRIZES
Já não me doem do amor as cicatrizes,
Que em carne viva ferem-me o peito.
Já não vives no meu sonho desfeito
Morreste em mim quando ‘inda eras raízes.
Se tudo se passou por que me dizes
Querer-me agora já se não te aceito?
E vens assim tão tarde ao meu leito
Com a ilusão de que somos felizes?
Não! Nem uma das centelhas vem a lume
Reacender das cinzas velha chama
Que em mim tu apagaste. És em mi’a vida
Uma esfinge, um sinal de queixume.
Frio é o meu coração que não se inflama
Pois que cicatrizou toda ferida.