Soneto 14

O Passageiro Cego
 
Pois que após dois ou três dias de travessia,
Os embarcados assumiram os riscos
E o respeito: a dor de dentro os merecia;
A alma fez nesse tempo alguns rabiscos...
 
Marcou a memória do grupo um homem cego,
Que sorria gentil e alegre, só, sem família,
E aos céus dizia: “ America, per Dio prego”,
Sem lembrar da “bota”, e nem da Sicília...
 
“- Porquê a vida não é mais que a tentativa,
E o homem é do planeta, não há o que negar,
O que há é o amar, amar a natureza viva,
 
Inexplorada, limpa e virgem, e a emprenhar
Com sementes: e na resposta, pronta e altiva,
De  tanto viço, alguma luz hei de enxergar.”

Este soneto é integrante da história da imigração da Ilha da Madeira para o Brasil em 1952.



 
José Carlos De Gonzalez
Enviado por José Carlos De Gonzalez em 23/04/2009
Código do texto: T1555523
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