O SONHADOR
Seu tempo, quase todo, célere, passou,
Fluiu, e o que lhe resta agora é muito escasso.
Só temo que não baste a quem tanto sonhou...
Ah, hão de sobrar sonhos porque falte espaço!
Sonhar foi sua marca, seu viver, seu traço;
De sonho em sonho a vida lhe embalou,
Foi uma mão possante e foi um forte braço,
Foi, nas horas de queda, o que lhe sustentou.
Viveu sempre sonhando e morrerá sonhando;
Se assim Deus permitir, morrerá laureado;
Deve morrer assim, a sonhar, delirando...
E ainda quer deixar aqui, na despedida,
Um sonho – a flor de um fruto a ser saboreado –
Onde ficar seu sonho, há de ficar sua vida.