ADEUS MÃEZINHA!!!
 
                                                                 Para os amigos: Deley
                                                                 Cláudio Camargo Martins
                                                                 Edson Gonçalves Ferreira.
 
I
 
Adeus mãezinha desse mundo vil;
Nasceste c’uma sina tortuosa,
E mesmo assim – num sonho azul anil,
Ainda procuraste a nuvem rosa...
 
Mas tempestade veio e te agrediu,
Deixando tua alma duvidosa,
E a esperança presa num redil,
Até ficar amarga – pesarosa...
 
Mesmo fugindo dele a todo instante,
O desencanto foi o teu amante...
No coração só mágoa – só bondade
 
Guerreira dessa luta que não cessa,
Já encerraste, aqui, a tua peça,
Restando aqui o olor da saudade...
 
 
II
 
 
Restando aqui o olor da saudade,
Da caminhada feita ante a dor,
Buscaste assim mesmo um frescor,
De algum resquício teu da mocidade...
 
Porém aquela gran escuridade,
Perseguia-te então num estupor,
Cercada de tristeza e de horror,
A sucumbiu-se toda a vontade...
 
Na busca de um momento incessante,
De amor, de paz, de luz – felicidade...
Harmoniosa nesga – bem radiante –,
 
Vieram-te, porém, somente agrura,
Na volição da alma – uma vontade
D’a flor pelo caminho menos dura...
 
 
 
 
III
 
 
D’a flor pelo caminho menos dura,
Um dia avistaste, mas, com medo,
De ser mesmo verdade esse segredo,
Pois a felicidade é ilusão pura...
 
A vida foi passando; e essa ventura,
No arcaico ficou – lá num degredo,
Sim, escapou, então, pelo teu dedo,
Ficando uma lembrança em formosura...

Esse querer intenso ao sentimento, –

Ter um sorriso de contentamento –,
E limpando, então, toda amargura...
 
Faria de tua vida uma canção:
Não acharia qu’é tudo ilusão
A vida nesse sonho de candura...
 
 
IV
 
A vida nesse sonho de candura,
Buscou satisfazer por um momento,
Algum minuto só – uma loucura –,
De nesga de ilusão – um simples vento...
 
Mas que fazer se foge na alvura,
A borboleta do contentamento,
Que nasce e logo se vai à altura,
Do utópico e inefável firmamento?
 
Partiste na chuvosa madrugada,
Pra descansar enfim da longa estrada,
Deixando a sua luz na eternidade –
 
A luz que emana força e muita graça,
No brilho d’uma estrela que não passa,
Pra amenizar agora a soledade...
 
 
 
 
V
 
Pra amenizar agora a soledade,
Bom é lembrar da doce companhia,
Que me fizeste, então, no dia-a-dia,
Cuidou de nós com garra e vontade...
 
Apesar do desânimo – é verdade,
O teu melhor foi tua garantia,
Para viver ainda na harmonia,
Para sentir a tal felicidade...
 
Lilás o teu caminho – sofredor –,
Qual Cristo a via crucis ao teu redor,
Foi tua sina – foi – a pisadura...
 
Ah mártir quanto abrolho – quanto espinho –,
Encontraste, não querendo, em teu caminho,
Citrina fruta  a boca se afigura...
 
 
VI
 
Citrina fruta a boca se afigura...
É viver procurando uma saída
Sonhar, correr atrás, empedernida,
Da ansiosa e alegre aventura...
 
E mesmo em meio à dor e a amargura,
É necessário estar em pé na lida,
E se acontecer de uma ferida,
Acontecer então de buscar cura
 
Par’alma que sublima a volição,
Buscando aquela bruma prateada...
Que torna tudo em rica benção – então...
 
Ah temos de seguir na habilidade,
Fortalecendo a alma já cansada,
Num gosto, então, de solidariedade...
 
 
 
 
 
 
VII
 
Num gosto, então, de solidariedade...
Nosso caminho foi assim traçado,
Nos laços do amor – da amizade –
Aonde um anjo anota todo dado
 
Assim, lembrança boa do passado,
Retrato em preto e branco  qu’inda há-de
Num mural da memória pendurado,
Ficar brilhando ao sol da eternidade...
 
Nem sempre é refinado o paladar,
Para sentir o gosto da memória,
Talvez para sorrir ou pra chorar...
 
É necessário maleabilidade,
Para o dulçor da vida – merencória –,
Adentrar n’alma amara com vontade
 
 
 
VIII
 
 
Adentrar n’alma amara com vontade,
É um viajar incrível que se faz,
Levar o mel da fé, amor e paz,
Tornar-se um bandeirante da amizade...
 
Pois cada coração é uma cidade,
Ser mais prudente, então – mais contumaz –,
Levar a luz do bem – Não do “Aqui jaz...”
Fazendo assim vibrar na eternidade
 
Acordes de lembranças revividas...
É ali, – naquela rede –, que se vão
Histórias que já foram esquecidas...
 
Mas qu’em cada estrela ao céu fulgura
Pra revivermos noite e dia então...
Qu’em sonho a fantasia se mistura...
 
 
 
 
IX
 
Qu’em sonho a fantasia se mistura
Além do coração pulula fundo,
No cobiçado anseio em cada mundo,
Que se transforma, então, nessa procura...
 
Um mundo todo seu – onde a ventura
É a musa a se banhar cada segundo –,
No anseio, de viver mais que profundo,
Provar da primazia, doce – pura.
 
Em fruto tornará de gratidão...
Que importa enfrentar a escuridão?
Se a coragem vem e acalenta?
 
É bom saber de um anjo que te apoia,
Não maior presente – maior jóia –,
À alma dar o sonho que alimenta...
 
 
X
 
 
À alma dar o sonho que alimenta,
É outono que transborda em nova messe,
Uma promessa que não mais se esquece,
E se desfaz a dor tão rabugenta...
 
É como o pão dos anjos quando em prece
Com alma amargurada, a voz lamenta,
E já quando o suor – na cor magenta –,
Em sangue se transforma, eis que o pão desce.
 
Ficando então o gosto bom de mel...
E a vida se transforma de repente,
Sem mais a sensação “ vazio” – ao léu.
 
Navega-se à nau rumo ao nirvana
A ânsia sobe assim... Sideralmente,
Levando a escuridão que só engana...
 
 
 
 
 
XI
 
Levando a escuridão que só engana,
O sol nasce feliz ao novo dia,
Então toda tristeza – letargia,
Esvaece junto à luz tão soberana.
 
Em êxtase a alma, então, se ufana,
Desponta, na aurora, a fantasia,
De um novo viver que prenuncia,
A paz buscada assim: com “ garra e gana”.
 
E passa a hora, então, e passa a hora,
Abate de repente uma incerteza;
Pois eis que uma Hemera vai-se embora...
 
Percorre um arrepio pela espinha...
O vento – qual leão – ataca a presa,
Deixando a esperança, então, sozinha...
 
 
XII
 
 
Deixando a esperança, então, sozinha,
A Espera se cansou de esperar,
Partiu tão de repente para o mar –
De reticências só – de entrelinha...
 
E nesse mar a história – linha-a-linha –,
Se junta cada qual em seu lugar,
Nesse oceano eterno a cintilar,
Guarda o passado e a frente, então, caminha...
 
 Na eternidade fica – não caduca.
Porém é uma saudade que machuca;
Que só uma lembrança que alenta...
 
Filosofando então assim toda partida
É um talho que se abre – uma ferida –,
Na alma, grande ausência que aumenta...
 
 
 
 
 
XIII
 
Na alma, grande ausência que aumenta,
Da companhia quando eu menino,
Tanta lição que tive – tanto ensino,
Que ainda sinto a voz sonora – benta.
 
Mas cada dia a vida experimenta,
Preciso, eu sei, então, galgar o cimo,
Enquanto, no momento, me examino,
Na meta que a mim vem e se argumenta.
 
Já tanta coisa vi em meu caminho,
Como Jesus, provei do amargo vinho,
Que quase a Razão tornou-se insana...
 
Mas cada um carrega sua sina,
Querendo, ou não, é fato que ela ensina.
D’herança fica a luta à vida ufana...
 
 
XIV
 
D’herança fica a luta à vida ufana
Não cheia de empáfia, nem perfídia;
Mas como a flor-do-campo – como a orquídea;
E como o sol que vem toda semana.
 
Se alguém ou alguma imagem lhe engana,
Não venda sua alma para a mídia,
Não deixe seduzir-se; não convide a
Dantesca fantasia que à mente inflama...
 
O mundo vil oferta as iguarias,
E a ti tristeza foi – melancolias,
Que contemplaste, mais a azeda vinha...
 
No abandono, então do objetivo,
Teu corpo, então, lutou para ser vivo,
Cansada sucumbiu... Adeus mãezinha!...
 
 
 
 
 
 
XV
 
Restando aqui o olor da saudade...
D’a flor pelo caminho menos dura...
A vida nesse sonho de candura...
Pra amenizar agora a soledade...
 
Citrina fruta a boca se afigura...
Num gosto, então, de solidariedade...
Adentrar n’alma amara com vontade
Qu’em sonho a fantasia se mistura...
 
À alma dar o sonho que alimenta...
Levando a escuridão que só engana...
Deixando a esperança, então, sozinha...
 
Na alma, grande ausência que aumenta...
D’herança fica a luta à vida ufana
Cansada sucumbiu... Adeus mãezinha!...
 
 

 



12-03 - 17-04/2009.
Gonçalves Reis
Enviado por Gonçalves Reis em 17/04/2009
Reeditado em 18/04/2009
Código do texto: T1545351
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