Amor-muriçoca

Tu foste a faminta muriçoca

Voando, a buscar o sangue quente,

Em mim pousando, em loucas cambalhotas,

E eu sonhando o meu sonho inocente.

A santa, me fizeste de boboca.

Teus beijos, chupões escandecentes,

Eram escavações numa ilhota,

E de sangue de fartavas bem contente.

Como a sangue-suga suga a presa,

Mordias e era tal tua destreza

Que a vítima sorria, distraída.

Farta, fugiste. E sem delicadeza

Deixaste a minha alma indefesa,

Sem dó, ali no chão desfalecida.