POSSO, MAS NÃO DEVO?
Por que posso amar-te se não devo,
Por que devo amar-te se não posso.
Por que eu em amar-te me atrevo,
Se não posso amar-te sem remorso.
Por que me enche a alma o doce enlevo
E só em ver-te ao longe me remoço.
Se o dote da ilusão é meu acervo,
Por que para esquecer-te em vão me esforço.
Por que tão longe estás, porém tão perto,
Que ora estou seguro, ora incerto
E misturam-se em mim o sim e o não.
Como quem busca água no deserto,
Com a doce ilusão, sedento flerto,
Para dessedentar meu coração!