PIRRAÇA
Nunca mais fez um verso, nunca mais!...
Já deve ter perdido a inspiração!...
Olhando a lua já não foi capaz
De fazer, como outrora, uma canção.
Das coisas belas já nem vê sinais,
Pressente, ao por do sol, a escuridão,
Olhando as cores – as enxerga iguais
E o seu lirismo já perdeu a unção;
Romântico que foi vendo as manhãs –
As portas de cristal de um paraíso –,
E vendo em tudo um bosquejar de riso...
Hoje, depois que o tempo deu-lhe as cãs,
Tirou-lhe o sal, tirou-lhe o doce e a graça,
E deixou-lhe o viver, só por pirraça.