Dor Errante
Se a chuva vem para velar meu pranto
E encontra meu peito vazio de sorte,
Nota que estou lamuriado num canto
Onde é indiferente vida ou morte.
E quando numa manhã me levanto
E sinto o frio no rosto como o corte
Da sedenta navalha, é um espanto
Ser fraco sem ter conhecido o forte.
Sendo que a esperança já não me resta,
É, pois, pífio o gosto de qualquer festa
E insosso o gosto do mais fino vinho.
Sou como pássaro fora do ninho
Buscando sozinho aprender a voar,
Um caminho que já não sei encontrar.