Casa Velha

I

No canto afastado da rua da igreja,

Ficava a casa já velha, sofrida,

Chorando sua vil fortuna a quem veja

Sua baixa sacada rota e sem vida.

Distante, ainda uma vela lampeja,

O mato vasto de ramas compridas

As paredes decadentes, corteja,

Tampa as velhas janelas coloridas.

Toda a morada lamenta o seu fim:

A porta cerrada há tantos anos,

O lustre saudoso do seu clarear.

E sofre o sofá de sujo marfim,

Móveis sufocados em tantos panos,

Enquanto vêem morrer o seu lar.

II

Tempos passados de tanto aguardar,

A cada telha caída, vai-se o viço,

Paredes exaustas de sustentar

Esse corpo, infindável serviço.

E eis que percebem algo a principiar

Ao lado, no terreno fronteiriço,

Notam muitos homens a trabalhar,

Vêem o quanto tal labor lhes foi omisso.

E no vislumbrar da cena nefasta,

A casa chora sua pintura gasta,

Esquecida, calada, resignada...

E numa hora, finda desesperada,

Abraça o suicídio, mordaz remédio,

E com uma ânsia rouca, cai o prédio.

Aleixo Prístino
Enviado por Aleixo Prístino em 04/03/2009
Código do texto: T1468131
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