Casa Velha
I
No canto afastado da rua da igreja,
Ficava a casa já velha, sofrida,
Chorando sua vil fortuna a quem veja
Sua baixa sacada rota e sem vida.
Distante, ainda uma vela lampeja,
O mato vasto de ramas compridas
As paredes decadentes, corteja,
Tampa as velhas janelas coloridas.
Toda a morada lamenta o seu fim:
A porta cerrada há tantos anos,
O lustre saudoso do seu clarear.
E sofre o sofá de sujo marfim,
Móveis sufocados em tantos panos,
Enquanto vêem morrer o seu lar.
II
Tempos passados de tanto aguardar,
A cada telha caída, vai-se o viço,
Paredes exaustas de sustentar
Esse corpo, infindável serviço.
E eis que percebem algo a principiar
Ao lado, no terreno fronteiriço,
Notam muitos homens a trabalhar,
Vêem o quanto tal labor lhes foi omisso.
E no vislumbrar da cena nefasta,
A casa chora sua pintura gasta,
Esquecida, calada, resignada...
E numa hora, finda desesperada,
Abraça o suicídio, mordaz remédio,
E com uma ânsia rouca, cai o prédio.