AS MUSAS DO CINTURÃO DE ÓRION (Nova Série de Sonetos * não consta no livro)

AS MUSAS DO CINTURÃO DE ÓRION

I - Mintaka

A primeira cadente em seus enganos

De saudade, fez trevas por meu pranto

E despertou verdade por espanto,

Pois sem saber, seu tempo causou danos.

Não foi de tudo acaso tal segredo

Que partirá tão leve... lentamente

Escorre solta a chama breve e quente

Da paixão – a morada do meu medo.

São nuvens de menino, vão de morte

Que meu céu, tão anil, já balbucia;

Desvendei logo o busto... tanta sorte!

Toquei seu corpo: clama e silencia

Em paz... pude amiúde então obte-la

Brilhando – tão bonita e meiga estrela.

II - Alnilan

Minha segunda estrela tão medonha

Escolheu ficar bem no centro, mas

Prefere amar ao longe e tanto sonha

Em mostrar-se soturna e mui sagaz.

Sinto um quebranto apavorado e triste,

Pois amor maior não há... tanto insiste

Em provocar! Que tanto existe mar,

Se o mar é só pedaço em teu luar?

Estás volátil pelo espaço dalva

E tudo em mim é tátil, mesmo a calva

Beleza lunar, tão calma e intangível.

Aceito tal indômita paixão

Por teu brilho fantástico e indizível

Que serei sempre em tudo gratidão.

III – Alnitaka

Debrucei meus pés sobre tua aurora

Sugerindo um suspiro de desgosto...

Sequei toda a dor que senti por ora

E sorri para a lágrima em meu rosto

Minha amada brilhava como Vênus

Nas noites estreladas de torpor...

O fato é que teus olhos são serenos

E, tal grandeza, tem belo sabor.

Deixarei num soneto peculiar

Toda métrica... toda compaixão

Do teu secreto e dissonante olhar

Caminho superando as ventanias...

Quero pensar no céu – nunca no chão!

Das estrelas, venero as três marias...

Paulinho Parada
Enviado por Paulinho Parada em 28/02/2009
Código do texto: T1462204