SONETO DO MENSTRUAR DAS NUVENS
O vento sopra o ar de sua graça
Que anuncia e arrepia pele e pensamento
Rajadas vazantes de seres no momento
Ruidos brancos do voar de uma garça.
Uma nuvem que menstrua cortante
Sangrando árvores, flores e até o vento
Chuva que chora um triste lamento
Tudo se curva num ritual constante.
Gotas que cortam o rio e o penetra
Num frio orgasmo que só nele infesta
Nas fendas que se abrem numa festa.
Pássaros voam sem rumo e sem laço
Deixando o vento os transpor pro espaço
Enquanto o rio goza possuído pela chuva.