Este soneto é dedicado a todos os açorianos na diáspora, para que quando forem alvo de múltiplas identificações, se saibam refugiar na sua verdadeira identidade. Sejamos aquilo que somos, conscientes de que, frequentemente, entre identificação que nos possam dar e a identidade daquilo que realmente somos, vai a distância redentora da verdade.



Eu nunca fui quem sou - nem um instante.
Primeiro, era o Flores, no Faial...
depois, o Açoriano em Portugal...
e na América, fui o imigrante.

É culpa do destino, esse tratante
que sempre me tratou pior que mal...
e me fez andarilho e jogral
em terra alheia, qual judeu errante.

Agora, enfim nas Flores, de regresso
ao pátrio ninho, eu somente peço
que não me chamem cá americano...

Deixem-me ser apenas o que sou:
um pobre lajedense que voltou
dos empurrões da vida de cigano.