OBRIGADO
Cidade interiorana. A chuva. Noite alta.
Durmo estirado ao fofo, ao longo do colchão.
Súbito um grito. Acordo. E tremo! A voz me falta!
Febril meu filho geme. Estorce-o a convulsão.
Corro apressado à rua. Os cães ladram em malta.
Relâmpagos. Trovões. A destra ao coração,
Chamo o doutor! – o santo e amigo que não falta.
E chamo o boticário – O anjo, a salvação.
Os dois me vêm a casa às pressas. Um, receita,
O outro à farmácia corre; urgente manipula.
Volta, seringa e ampola à mão; consulta a bula.
Furam meu filho; dão-lhe a beberagem feita.
E eu rio. E chora a morte a perda do cardápio.
- Boticário, obrigado! – Obrigado, esculápio!
Nota: Publicado em "Safiras e Outros Poemas", Belém, PA, 1960, o poema será de meia dúzia anos antes, em Queimadas, BA. Mais que cinquentenário.