FERA ENJAULADA
Queria ser o rosto
Que aos teus olhos acalma
Mas como posso sê-lo?
Se em meus olhos reflete-se
Apenas minh'alma inquieta
Como uma fera furiosa
Meu coração não tem paz
Meu espírito se agita
Inquieto e irritado
Sombreando meu senho
Meu sorriso entortado
A luz do sol me agride
Tal qual o Drácula
Meu olhar embrutecido
Não transmite paz
Nem acalma
Tua luz não me pacifica
Ao que inquieta
Dentro de minha alma
Mas a luz do teu olhar
Me agita, me sacode
Me dá vontade de cantar
Quisera eu que a luz
Que provém do teu olhar
Viesse cheia de amor
Plena do teu carinho
Porém a luz do teu olhar
Aquece a fronte
De um outro coração
De uma outra alma
Que no entanto te faz chorar
Quisera eu ser essa fronte
Me banhar no calor
Dessa luz do teu olhar
Mas ela penetra minha carne
Queima meu semblante
Cheio de trevas e de ira
Desnuda minh'alma
Essa fera enfurecida
Que cai em prantos entristecida
De tal forma enternecida
Busquei em tantos olhos
Aquela ternura que não pacifica
Porém que a minh'alma adocica
Que seu calor lhe regozija
Mas pode um ser irrequieto
Um espírito insubmisso
Ter algum dia morada
No fundo dum coração perfeito?
Meu coração tempestuoso
Não busca mais a paz
Ilusória e fugidia
De outros corpos, outros olhos
Que não os teus
Olhos luminosos, sorriso doce
Irradiando a luz do teu amor
A um outro amo e senhor
Só penetram e atravessam
Minh'alma que deseja com tanto ardor
Só uma nesga do teu calor