FERIDA PERENE

No meu peito você fez a ferida,

E nunca mais deixou que ela sarasse;

De nada lhe servira a minha vida

Para fazer com que você me amasse.

Já quase um ancião, sinto exaurida

Esta esperança; a dor mostro na face.

Eu morrerei com a chaga dolorida,

Porque não tive a boca que a soprasse.

Se só gosta de dar-me dissabores,

Não precisa, também, trazer-me flores

Quando eu morrer. Nem vir ao meu enterro.

Mas se também quiser estar presente,

Não se constranja, pois verá somente

Um corpo inerte – sem virtude ou erro.

Raymundo de Salles Brasil
Enviado por Raymundo de Salles Brasil em 20/04/2006
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