ARTE-AJUDA - Soneto a Fernando Pessoa
Oba oba o otimismo da auto-ajuda me pegou.
Já não escrevo poemas pra fingir a minha dor.
Dei de fingir, positivo, que viver é uma alegria,
Como em meus tempos moleques quando a vida não doía.
Ora ora já nem sinto precisão de escrever.
Basta pensar que a poesia conseguiu me convencer
Que o poeta, ao fingir “a dor que deveras sente”,
Termina por se sentir como um ator dos mais contentes.
Basta fazer da vida um teatro ou um cinema
Onde “Tudo vale a pena/ Se a alma não é pequena”;
Onde o ator pisa o palco como se fosse um divã,
Declinando de ter alta sem que a alma esteja sã;
Sem que sua vida vivida possa servir como tema
Pros adeptos da arte-ajuda transformarem-se em seus fãs.