POETA EM LUTO

Assim morre um amor e nasce um verso,

na grama sobre a cova, esverdeada;

um verde musgo, frio e em terra imerso

é cobertor cobrindo minha amada.

A rima é triste, pobre e nublada;

a métrica enlutada compreende

que ontem muito fui, hoje mais nada;

a inspiração não mais me surpreende.

Ao custo que escrevo esse soneto

me sinto a folha d’árvore caída

que ainda vive, mas já não tem vida.

Em teu sepulcro, hoje lhe prometo

que nunca irei chorar por teu sorriso

e logo encontro a ti no paraíso.