Outono
O tempo passa. Vou errando pela vida
Como folha caída ao sabor do vento.
Entrecruzam-se rugas em minha tez encardida,
Descubro matizes de penumbra em meu pensamento.
Os dias passam em obstinada corrida,
Reinventando deidades neste céu cinzento.
Por que hei de chorar? Minha partida
Finaliza-se em nada, é pó jogado ao vento.
Os dias passam. Inútil, meu gesto arde
E, no espírito, a luz chegou tão tarde!
Não há memória, posto que a lama seja o fim.
Assim, quando vier a alvorada fria,
Libertando ao destino da água as nuvens do dia,
Bem-vinda seja a chuva sobre mim.