As Meninas
Entre as meninas, um hiato ditado pelo destino. Uma, menina-moça, inquieta-se diante da mulher que busca desabrochar de dentro de si. A outra, menina-mulher, desabrochada sem arbítrio, recolhe-se em seu pequeno mundo para esquecer-se da dura sina.
Entre ambas, somente a essência intacta, guardada num bauzinho. Ficaram para trás os laços de fita, os sapatinhos de fivela, as bonecas, as caretas, as soquetes, as calcinhas bordadas... Ficou a meninice.
Despertar
Ainda és menina e teu fruto verde-claro
Repousa sereno na zelosa folhagem
Que o sono inocente acalenta feito pajem
Neste cenário encantado com que deparo.
Caminho desejoso seguindo meu faro
E me lanço de arroubo tomando coragem,
Que só existe porque os sentidos reagem,
Mas ofereço mais em momento tão raro.
Se me devotas tão crédula teu apreço
Na sublime despedida da castidade,
Honra que me atordoa ao cismar se mereço,
Prometo de tudo fazer como te agrade,
Desde beijos e carícias com que te aqueço
Até devassar-te de todo a intimidade.
Zona de Refúgio
És um sensível botão em veludo
E quase impossível que se descubra,
Não fosse essa música e luz tão rubra,
Que no teu ventre há um pouco de tudo.
O moço se gaba rijo e sisudo,
O velho ora é moço se te vislumbra
Fagueira, flutuando na penumbra,
De corpo bem-feito, o seio miúdo.
Se todos soubessem de teu encanto,
Teus predicados de mulher ardente,
Que em razão de outrem sufoca o pranto,
Tornando o mortal um deus de repente.
Mas, a sós, te pões a chorar num canto,
Pois inda és menina e também carente.