Um amor e uma tortura
Meu feliz carcereiro falou uma vez
que tudo que queria era se livrar de nós
a pedrinha na chuteira, rio de cuja foz,
fogem as pororocas, e nós no xadrez.
Uma graça o homem de cara alourada.
Botava em pau-de-arara, dava choque elétrico,
no fundo da masmorra no seu porão tétrico,
tinha gosto em bater com fé e tacar pancada.
E, profissional que era, quando matava
ocorria acidente de trabalho e a dor
que muito justamente tinha ocorrência
que era o seu objetivo com tal freqüência,
fora, sim, postergada, pois se anunciava,
a nossa liberdade e seqüestro do embaixador.
Nota: Essa é uma obra de ficção em que faço uma recordação poética de fatos marcantes que ocorreram durante a minha vida. O sequestro do embaixador referido ocorreu na década de 1970 e motivou a libertação de diversos presos políticos.
Junto com outros textos, tento construir as minhas memórias em poesia.