SONETOS CONTEMPORÂNEOS A VINÍCIUS

De habitação nas praias da Bahia

- e Sergipe também –, viva o caju!

Fruto sem casca, sempre teso e nu

tem cheiro e tem sabor de maresia.

Pela orla do mar estende os ramos

esgalhado e robusto o cajueiro.

Os galhos vêm ao chão porque é rasteiro

E as corças alimentam – corças, gamos -.

Acastanhado, cor de ouro de lei,

é rígido o caju - como direi? -

igualzinho ao tesão na hora do fato.

Vem-me do rei Vinícius a lembrança,

toma morada em minha mente e dança

o cajueiro, bordejando o asfalto!

II

Do cajueiro, bordejando o asfalto,

Distende-se a castanha do caju.

- Dir-me-á algum leitor – ah! não és tu

que entendes, certamente, do barato.

Mestre Vinícius, sim, sabia o prato

que une o vatapá ao caruru

- alimento das deusas. De caju

e de mulheres. No real, de fato!

Outro poeta não entende disso,

não conhece a mistura do feitiço

e da quinquilharia - praia e mato...

Mas vamos à castanha do caju,

que se desprende desse, sempre nu,

o cajueiro bordejando o asfalto...

III

Castanha de caju! Carece trato

a árvore que o fruto, teso, entala.

O povo sabe tudo, e o povo fala

que neste caso, a lei não põe recato.

O regalo à Vinícius era um luxo,

regado a vinho seco de Caxias,

a coxa da cabrita, rins, coxias,

tudo isso na vazante e no repuxo.

Maré de Itapoã, praias alvíssimas.

Louras, mulatas belas e finíssimas,

rondavam o poeta como a Exu.

E ele, seguro, erguia mais a cesta

e a enchia de castanhas, uma festa

às mulatas... Castanhas de caju!

IV

Às mulatas, castanhas de caju...

- Eu falo de caju e de castanha,

de praia e cajueiro, não de umbu

e de sertão. De fruto, não de banha –.

Desprendida a castanha do caju,

alimenta e acontece encher o bucho.

A fartura nem sempre gera luxo,

e muitas vezes pauta à Belzebu.

O Poeta sabia e usava camisinha

para evitar o engano da avezinha,

isso que faz bravia a onda mansa.

Porque a ocorrência é chata e atemoriza

e põe na mente a dúvida imprecisa,

o sôfrego cavalo sai da cancha!

Em 21-01-06

João Justiniano da Fonseca

joaojustiniano@terra.com.br

www.joaojustiniano.net