Sem asas
“Quero voltar! Não sei por onde vim...
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!” (Florbela Espanca)
Sem asas
O ocaso vem, derruba meus castelos
E vão-se, um a um, se desmanchando,
Declínio de meus sonhos, os mais belos.
Faz parte dessa vida o vil desmando.
Qual pássaros libertos que voando
Sem asas, pois partiram por cutelo,
Em mágicos desvios, arrastando
As cores do arrebol pro amarelo.
Ruem-se ao chão meus halos num comando,
Sem risos, boca pálida em flagelo.
E o pôr-do-sol sem cor não é singelo...
A noite mias quimeras vai levando,
Inúteis meus quereres são-me quando
Só uma saudade morta é o meu anelo.