ENVENENADA

 

Pudesse cerrar para sempre a pálpebra

Envenenada por cortante e nua frieza!

Sou meretriz... de longínqua pureza

Concubina da enganadora palavra!

 

Imputada no peito inviolável draga

Ofusca do intelecto qualquer clareza!

Peço-te: não esperes sublime nobreza

Quando o fel desfigura esta boca amarga!

 

Dos versos - em vazão ao desgosto - fiz travas

A fim de vedar-me das garras da tristeza!

No amar tecido de meiga sutileza

 

E das adagas que sem piedade cravas!

Pois, copiosas lágrimas não entravas

Lavando a emoção regada na firmeza!