POSTERIDADE
Um, passa a vida sempre alheio às coisas da arte,
Ao sentimento humano e ao pensamento ético.
Ganha o metal e põe-se a acumular, frenético,
Trabalha até que a morte o colhe pelo enfarte.
O outro verseja, pensa e escreve. Esbanja à parte.
Mulher e filhos. Ama e chega a ser profético,
É o ideal do belo, a perfeição do estético,
E morre por descuido, a agasalhar-se na arte.
Aquele tem, formal, a missa aos sete dias.
O purgatório, o Céu, o pavoroso inferno?
- A Morte envolve, eterna, o esquecimento eterno.
Este tem flores, pranto, o terço e ave-marias...
Seu verso cresce e vive a refletir saudade.
- Pois isto é a vida eterna, isto é a Posteridade.