DA HUMANA CONDIÇÃO * Sem pão, sem harmonia...

Hoje, por mais que tente, a minha lira

recusa-me um acorde de harmonia...

Apenas arfa, como quem suspira,

ou uiva, como aflita ventania...

Perplexo, me interrogo num porquê.

Olhando, em derredor, o desalinho,

olhando, mas com olhos de quem vê,

descubro que me quer noutro caminho.

Crianças órfãs medram pelas ruas...

Nas mesas não há pão nem esperança...

As árvores sem ninhos, tremem nuas...

Por entre a treva, a dor irada avança...

Bem-hajas, lira, a quem eu devo tanto!

Que seja, agora, a luta e não o canto!

21 de Março de 2006

Viana do Alentejo * Évora * Portugal

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 22/03/2006
Reeditado em 28/12/2018
Código do texto: T126995
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