Mácula
Minh’alma cinza, de silêncio feita,
São folhas secas que caíram mortas.
Dum céu outrora azul de cor perfeita,
Agora só reflexo, sombras tortas.
Mortalha no meu peito fecha as portas
Pro mundo em vão deixando fresta estreita,
Na qual eu venho, espio, não me importa
Se brumas cobrem tudo, pois, refeita,
Eu teço sempre sonhos irreais.
Presságios de agonia eu dissimulo,
Envolta em mantos quentes d’ilusão.
Meu coração me diz que são fatais
Os frios que me velam, pois maculo
Com gelo a lava ardente da paixão.