SONETO DA COISA POUCA
Quantas vezes é preciso apenas alguma coisa tão pouca,
Apenas algo como um toque, um detalhe, um leve carinho,
Para que a vida logo se desenrole num outro caminho,
Se torne bem menos dura, menos feia e menos louca.
Quantas vezes fugimos do que seria mais fácil aceitar,
Numa rebeldia que não é mais que um adiamento feito
Ao momento terrível, de se olhar dentro do peito,
Mesmo já sabendo bem o que se vai encontrar.
É então que tudo o mais perde o sentido, a razão de ser,
O espelho nos devolve um sorriso desconhecido,
E as horas de um longo dia custam a acontecer.
E jamais se ultrapassa a descoberta, o momento lindo,
O ponto em que pudemos ver, claramente acontecido,
Uma porta a fechar-se, e logo uma outra se abrindo.