MIGALHAS POÉTICAS

Sou um cisco da luz, fragmento ou migalha,
a lágrima caída de alto firmamento;
apenas a poeira que algum vento espalha
e nesse vasto espaço, não sigo a contento.

Nem mesmo sou a chuva a martelar na calha,
e menos sou o mar, poder e movimento:
da rocha faz areia e sem cessar trabalha;
na areia a breve bolha, aqui mal me sustento.

Num plano que é infinito e ao infinito vai,
quê sou, senão um fóton a vagar no espaço?
Sou tão pequena, diante do vasto universo.

Em vão, não há por quê soltar sequer um ai.
Se não tenho domínio em nada do que faço,
eis que me encontro forte quando escrevo um verso.


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