A BARRAGEM
Tantos anos à margem deste rio
arfei de sol a sol, desesperado!
Plantei... Colhi... O solo, bem cuidado,
jamais deu fruto que alcançasse o estio...
Como o guerreiro que não perde o brio,
ou como o arauto que apregoa o fado,
meu pai nasceu, morreu no seu roçado,
andei os passos que meu pai seguiu.
Vem agora a barragem, tudo inunda,
e eu perco tudo — o chão, a casa oriunda
da herança honrada que deixou meu pai.
E vou... E vou... Aonde irei, meu Deus,
sepultar o meu fim, os dias meus,
e a dor enorme que o meu peito esvai.