Soneto para a mulher intocável
O que há de breve no teu gesto é a própria mão,
Enquanto em mim é tardo e vasto o pensamento.
Ver-te é a melodia de um súbito momento,
Não ver-te é o que me tarda e pesa o coração.
Em ti é breve o ser e mui leve a visão,
E tênue o rastro que não ficou no cimento.
O que há de breve em mim é o meu contentamento;
O que há de tardo em ti é tua ausência e Não!
É reticente e vago o teu vulto que assoma
Ao fim do dia, como numa vasta porta,
Enquanto eu me quedo pensativo e presente.
E te escuto na grande tarde que me toma
Cantar, ao rumor da ventania que corta,
A canção que me enlouquecerá de repente.