A Metrópole
Vou pela cidade mordendo os ossos do meu desconforto,
Alargo os passos pela suja concretude da avenida.
Atravessar as ruas dói como cauterizar feridas,
E a podridão dos dias lembra o fedor de um cachorro morto.
Estou lúcido como um mendigo sujo, rasgado e torto.
Tudo que penso faz lembrar uma catedral derruída.
Meninos doentes formam minha família mais querida,
E minha doce amada procura homens no cais do porto.
Vem o entardecer, e no campo de batalha do meu sonho
Minha bengala e meus andrajos são as armas que deponho;
Busco por ela, mas a bem amada ainda está no cais.
O uivo das sirenes ressoa como um cântico aflito,
E o poema que no inferno da metrópole foi escrito,
Leio-o nas folhas desbotadas e amarelas dos jornais.