Que refrigério então terei
Enquanto viva for vossa lembrança
De um gesto pudico ou de encantamento,
Seja em meu peito ou no pensamento,
Em ambos fará sempre vil pujança.
Por que de vosso amor tal mudança
Houve tão contrária a meu sustento,
Que fez que porfiasse tal tormento
Mais contrário inda à minha esperança.
Nunca mais outra vez, Senhora, ousarei
Nesta vida minha já querer-vos,
Que de vós só me lembra odioso engano.
Mas bem é contrário à vontade esquecer-vos,
Pois que refrigério então terei
Se não vos tiver mais freqüente é o dano?