PERDIDO

Sinto-me, sem sentir, todo abrasado,

No rigoroso fogo que me alenta;

O mal que me consome me sustenta,

O bem que me entretém, me dá cuidado.

Ando sem me mover, falo calado,

O que mais perto vejo se me ausenta,

E o que estou sem ver, mais me atormenta;

Alegro-me de ver-me atormentado.

Choro no mesmo ponto em que me rio,

Maior risco me anima a confiança,

Do que menos se espera estou mais certo.

Mas, se de confiado desconfio,

É porque entre os receios da mudança,

Ando perdido em mim, como em deserto.

(Do Cordel POEMAS DE UM HOMEM SÓ)

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 17/08/2008
Código do texto: T1131839
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