Auto-retrato

Sou um rapaz que não soube, ao mundo, se casar.

Negro, um tanto alto, cabelo ruim, de bons dentes.

Sou tímido e besta: Amo regularmente

E timidamente não aprendi a assobiar.

E a ter, até aqui, a tez de um menino, apesar

Da idade em que me encontro – O que me é conveniente;

Há... feio o nariz de perfil e duras lentes

Pra ver se, de longe, ainda posso enxergar.

Magro, até certo ponto, calmo e até senil.

Pálido, o lábio vermelho e um modo servil

De um macro e humílimo homem tácito que sou.

E teimo em dizer que sou um espírito inquieto,

Preso a uma aparência apática de neto,

Que chora a morte de um desconhecido avô.

Teresina, 03/06/99