IMPLORANDO UM SUSPIRO

Dobra o sino na torre que hera veste,

muge a grei e lambe o capinzal molhado;

o cultor cansado busca a choupana agreste

e deixa-me o mundo com o anoitecer de lado.

Alongo os olhos, vazo a bruma até o leste

onde deixei a vida e o coração ora empedrado

no castelo de areia e vento que me deste;

dorme agora em cela estreita, encarcerado.

Como restaurar no peito o fogo extinto

nesta cinza morta que encerra este precinto

se vivo a implorar pelo menos um suspiro?

Amanhã, ao pespontear o sol no outeiro erguido

talvez encontre o Amor, tão escondido

neste mármore gelado do silêncio que transpiro!