Lamentações de um defunto
Naquela noite que entrei no cemitério
Vi um cadáver que caminhava solitário
Trazendo apenas um pano ordinário
sobre a carne podre de seu corpo esguio
Andava triste, aquele defunto visionário
A debater sozinho sobre o mistério
da origem e o efeito deletério
da cobiça como fator hereditário
Um mal inerente ao Homo sapiens, ele dizia
que nos leva a uma louca antropofagia
Tornando-nos mais primitivos que animais
Então me vi, naquele retrato de agonia
De um homem devorando seus iguais
Com o ventre abarrotado, sempre a querer mais
à Augusto dos Anjos