Soneto do cansaço
Eu queria ser como esse cão valente,
De pelagem ruiva e olhos inflamados,
Que ao veloz passar dos carros prateados
Atira-se num ataque inclemente.
O soberbo animal que ignora o medo!
Que se lança heróico ao desconhecido!
Era a ele que eu devia ser parecido,
E não a um enfermo morrendo em segredo.
Eu já perdi o viço - durou um dia apenas!
E ainda insisto, de noite, que preciso
Sonhar com as suas mãozinhas pequenas...
Mas agora é tarde - eu perdi até o siso:
Só a fogosa cachaça, e a muitas penas,
Consegue tirar-me um breve sorriso.