TALENTO E FORMOSURA
Guardas em ti os dons da formosura
Que o tempo ainda nem sonha em trucidar.
E vives bem ufana essa ventura
Que a Natureza cegamente quis te dar.
Assim sorris das minhas desventuras
Pertenço à dor, e gosto de penar.
Eu tenho n’alma um cofre de amargura
Que é meu tesouro e ninguém pode roubar.
Pois quando a dor me pede alguma esmola
Lhe abro as portas d’alma que a consola
E com lágrimas o amor lhe mitigar.
Mas quando a morte conduzir-te à sepultura
Tirar todo esse talento e formosura
O teu orgulho em pó reduzirá.