SEM ÓBOLO
Um dia eu vou morrer e lá vou eu,
Arauto de ninguém nem de mim mesmo.
O que seremos quando já não sermos,
se o nada que nós fomos se perdeu?
Onde é que eu estarei se sem memória,
perdido andarei sem saber onde
encontrar-me, pois nem sei se lá se esconde
o meu antigo eu esse de agora?
Onde estarei? No Éden ou em lugar ermo?
Que importa se de tudo esquecermos
e a amnésia for o mal de quem viveu?
Sem óbolo e sem ter quem me conte,
vou cego surdo e mudo ao Aqueronte
atravessar-me em outro que não eu.