Soneto do Cego de Nascença

Soneto do Cego de Nascença

Não preciso enxergar o colorido

Pra saber que o poeta vê no escuro

Pra entender que a grandeza de um ser puro

Aceita a grata luz de ter nascido

Não preciso enxergar os meus retratos

Pra saber que o passado está em meus dedos

Pra entender que minha alma e os meus segredos

Não precisam da luz; em mim estão os fatos,

Mas queria ter os braços mais compridos

Pra projetar-me em toda a natureza

E descansar em glória os meus sentidos,

E queria ter na palma um coração

Pra conseguir amar mais a beleza

Que alguém que a vê, mas nunca a pôs na mão...

Ivo Tavares
Enviado por Ivo Tavares em 05/07/2008
Código do texto: T1066214