Desventura d'Amor/
Quando d’Amor minha bem-aventurança
Consistia-se em tão perfeito estado,
E eu nada receava e em nada prostrado,
Foi aí, então, que se deu uma mudança.
Hoje vivo d’Amor desenganado
E tudo me fere qualquer lembrança!
Ó gente ímpia olhai onde ponde esperança
Se não quiserdes viver bem magoado!
E escutardes a mim – o descontente,
Pois vede onde minha ventura
Põe-me um mal, que cresce lentamente!
Ó gente cega!Ó mísera gente!
Vede donde vem vossa desventura,
Que Amor é um mal,que mata e não se sente.