Alter-ego poético
Herculano Alencar
—Não me agrada a tua poesia.
Falou-me o poeta que há em mim.
—A tua pieguice não tem fim,
se eu fosse tu, jamais escreveria.
Falou... falou de mim, mas não sabia
que eu, por ser o sócio do seu ego,
podia enxergar com o olho cego
e ver a sua inveja em agonia.
Então continuei, por teimosia,
a rascunhar a vã caligrafia,
sem que ao alter-ego desse ouvido.
E creio agora que, neste momento,
quando me veio um verso ao pensamento,
ter alter-ego já não faz sentido.